No dia em que eu saí da Serra...

Os pendões avermelhados do capim-gordura ondulavam, dando a impressão que a serra dançava ao som dos pássaros para receber a primeira manhã de julho.
O orvalho congelado cobria a plantas. Com seu beijo matinal, o sol acordava o jasmineiro e derretia a geada trazida pela noite. Mimadas ao despertar, as flores agradeciam perfumando tudo ao seu redor. No ipê roxo, à frente da casa, um curiango solitário se amoitara no ninho, não gostava de despedidas...
Mariinha sabia que a vida nunca mais seria a mesma. A mudança foi arrumada no carro de bois. O avô ia à frente conduzindo os animais, o pai a cavalo, levava um dos filhos na garupa, a mãe acomodou-se com os pequenos junto à tralha, em cima do carro.
—Mariinha, ocê ta chorano, minha fia?
—Tô não mãe. É o vento qui jogô puêra nos meus zoio e feiz saí água...
Correu sozinha pela estrada afora, tentando enganar a saudade que principiava a doer no peito...




Nota: As tradições orais apontam a água oriunda do São Francisco, o capim-gordura e a tradição familiar como
os ingredientes responsáveis pelas características do queijo canastra.


Completando esse pequeno conto e agradecendo a todos meus colegas recantistas pelo carinho, deixo aqui a interação de meu amigo e conterrâneo, Geraldinho do Engenho. Muito obrigada, de coração.


22/06/2011 06:33 - geraldinho do engenho
SEUS TEXTOS ME TRAZEM RECORDAÇÕES DA INFANCIA COMO SE FOSSEMOS IRMÃOS VIVENCIANDO A MESMA SAUDADE!
Para o texto: No dia em que eu saí da Serra... (T3046724)