O PEQUENO CEMITÉRIO

De repente, os pintos dos vizinhos deixaram de frequentar o nosso quintal, mesmo que não houvesse qualquer obstáculo para eles, os pequenos.

Minha mãe costumava jogar restos de comidas nos pés das cercas de varas que circundavam o quintal, com a finalidade de alimentar as nossas galinhas e pintos, mas os pequeninos pintos dos vizinhos conseguiam passar pelas brechas entre as varas e, assim, roubavam o alimento de nossas criações.

Gilson, meu irmão, de saudosa memória, de apenas oito anos, na época, gostava muito dos bichinhos, mas não se conformava com a sujeira que eles deixavam na área, particularmente pelos pintinhos visitantes.

Diariamente, eu ouvia o Gilson reclamando à minha mãe sobre o problema da sujeira do quintal. Minha mãe contornava, dizendo que ia falar com a vizinhança, mas nunca foi realmente tratar de assunto tão irrelevante, pois era comum essa prática, naquela época, na periferia da cidade. Todo mundo criava, em casa, suas galinhas, porcos, bodes, etc.

Nossa casa era vizinha da Capelinha do bairro, onde quinzenalmente, eram rezadas missas, e algumas vezes por semana eram feitas novenas, encontros, etc.

Uma noite, após a novena, algumas vizinhas se aglomeraram nas proximidades da nossa casa e discutiam sobre o desaparecimento dos seus pintinhos. Umas achavam que poderia ser alguma raposa que os estava atacando, outras pensavam ser algum ladrão que estava roubando os bichinhos. O certo é que os pintos estavam sumindo.

Gilson não falava nada, mesmo ouvindo as conversas das vizinhas. Minha mãe indagou-o sobre a questão, mas ele desconversou. Os nossos pintos continuavam no quintal.

Dias depois, fui pegar uma bola que caíra nos fundos da Capelinha, quando me deparei com um inusitado cemitérinho feito no canto do muro. Era um cemitério estilizado, com cruzinhas feitas de palitos de picolés.

Gilson costumava brincar, sozinho, no local.

Joanilson
Enviado por Joanilson em 30/05/2011
Reeditado em 18/07/2020
Código do texto: T3003847
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