Quando a vida não fala mais alto...
Eu estava ali há uns quatro meses. Ali eu era como um peixinho, nadava e nadava, quando cansava eu dormia, sem preocupações. Não sentia frio, nem fome e nem sede. Era algo mágico, não sei explicar. Simplesmente eu estava sempre satisfeito. A única coisa estranha que acontecia, é que as vezes eu me sentia sufocado, sei lá. Minha mãe fumava muito e isso me incomodava. Outras vezes eu ficava doidão, nem sei explicar direito, era como se aquele meu mundinho aquoso virasse do avesso. E quando isso não acontecia, eu tinha uma aflição que só eu sei, ficava muito agitado.
E assim eu levava os dias. Muitas vezes acordei aos sustos, ouvindo os gritos da minha mãe, gritos de socorro... mas eu não podia fazer nada, não sabia como fazer. Isso também me angustiava muito. Mas fazer o que? Nada. E num desses dias, em que eu tirava um cochilo, depois de ter ficado doidão, eu vi uma coisa horrível! Um gancho enorme entrando na minha casinha e tentando me agarrar! Eu fiquei com muito medo, encolhi-me o máximo que pude, mas o gancho me alcançou e arrancou uma das minhas perninhas. Que dor lancinante, nem queiram saber! Eu sangrei, meu coração disparou e o gancho continuou a me perseguir. E, aos poucos, foi arrancando minhas partes, aos puxões. Eu senti tudo, doeu tanto! Onde estava minha mãe? Por que ela deixou que fizesse isso comigo? Não entendo! O que eu fiz de errado? A última coisa que arrancaram de dentro da minha casinha foi a minha cabeça, mas aí eu já estava anestesiado, não sentia mais nada. Até hoje eu fico me perguntando. O que aconteceu? Por que não me deixaram nascer? Por que eu não tive um futuro? Por quê?