Uma criança de outras eras Brincando e aprendendo Ler
No tempo de minha infância a vida andava devagar,
podíamos passar o tempo brincando de tudo que gostávamos:
jogávamos amarelinha, pulávamos corda,brincávamos
de roda, de boneca, de peteca,de bola de gude,
despreocupadamente nas calçadas das ruas, nas praças...
Tomávamos banho nos rios, ouvíamos estórias de Troncoso,
de almas penadas, de mula sem cabeça, de saci perêrê,
de Lampião e Maria Bonita...
Ver a Maria Fumaça chegar na estação da cidade era nossa
distração nas tardes de domingo.
A Escola boa era a Pública! Nela fazíamos caligrafia, cópia,
ditado, dissertações... análises léxica e lógica sem ter a menor
idéia da serventia de tais aprendizados.
Decorávamos os conceitos de substantivos, adjetivos, pronomes...
sem entendermos o que significavam: nomear, qualificar, substituir o nome. Com bom tino, sempre me saía bem nas análises!
Em Aritmética tínhamos que decorar bem a tabuada pois aos sábados havia “sabatina!"
A professora perguntava: oito vezes sete dividido por dois
menos dois? Quando o inquirido não acertava, passava a pergunta para o outro, que acertando, ganhava o direito de dar um bolo no colega com palmatória reforçada e com força redobrada!
Deus do céu, que tortura!
Éramos forçados a estudar para não apanhar nem ficar sozinhos
na sala de aula na hora do recreio.
No fim do ano, fazíamos o exame final do qual tiravam uma média
que não podia ser inferior a cinco.
Todas as provas eram colocadas dentro de uma folha de papel
pautado pintado com flores e um laço de fita em lugar dos grampos.
Na frente, o “veredicto:” Aprovado ou Reprovado “com letra vermelha!”
Tínhamos então três meses de férias, felizes para uns, tristes para outros, pois ser reprovado era motivo de humilhação.
Certa vez passei em primeiro lugar da turma, e minha professora me prometeu um presente e pediu que eu fosse buscá-lo em sua residência; "afinei as pernas” de tanto procurar o tal prêmio, até que um dia, a pró já aperreada, me deu um livreto sem nenhuma importância com uma dedicatória sumaríssima!
Era muita decepção para uma criança!...
Com o passar do tempo íamos entendendo os conceitos, e bem
mais adiante começando a perceber a serventia das tais análises,
conjugação de verbos etc. Naquela época também não havia maternal nem pré primário... entrávamos na alfabetização diretamente aos seis ou sete anos. Não havia métodos apropriados para a tarefa de alfabetizar, aprendíamos as letras na carta de ABC, depois passávamos para a cartilha e íamos soletrando: “b o bo lê a la bola! Só depois é que passávamos para o famoso método:" Ivo viu a uva"
Na década de sessenta, graças ao grande educador Paulo Freire, novos horizontes foram surgindo trazendo clareza no processo de aprendizagem da leitura.
Antes, para mim, foi uma verdadeira prova de fogo!
A “decoreba” perdurou até o final da década de sessenta quando novos métodos começaram a surgir. Daí então foi chegando uma
enxurrada de metodologias: Falava-se de Piaget, Montessori,Vigotsky. Foram chegando então com tal velocidade que os professores ficavam aturdidos.
Hoje já escolhemos o método que achamos melhor para os nossos filhos e netos.
Se naquela época havia mais espaço para as brincadeiras espontâneas,
por outro, éramos desfavorecidos e muuuuito!
Assim andou a história da educação neste nosso país,
cada época com suas peculiaridades!