O ENCONTRO
A vida em sociedade sempre lhe fora hostil, razão pela qual buscava a solidão. Encontrara, portanto, o lugar ideal: um casarão mal-assombrado, cujo aluguel cabia folgado em sua aposentadoria. Pudera. Ninguém conseguia morar no local por muito tempo: barulhos de corrente, louças voadoras, vultos furtivos – tudo isso desvalorizara drasticamente o imóvel.
Ele, no entanto, não dava a mínima. Convivia tranquilamente com os fantasmas da casa – outrora cenário de um incêndio que vitimou toda uma família, a mesma a quem atribuíam aqueles distúrbios sobrenaturais.
Um dia, ruídos no quarto despertaram o novo inquilino. Ele abriu os olhos e, na semi-escuridão, vislumbrou ao seu redor um grupo formado de dois adultos, um adolescente e uma criança. Todos lhe sorriam.
Deles não sentiu medo, pois já sabia quem eram.
O chefe da família adiantou-se e estendeu-lhe a mão: “Seja bem-vindo”.
O inquilino estranhou. Afinal, convivia com eles há meses. Por que então só agora apareciam para lhe dar as boas vindas?
A estranheza desfez-se quando se voltou para cama de onde se levantara. O que viu não o assustou; pelo contrário, trouxe-lhe até alegria. Já não teria mais necessidade daquele corpo solitário. Agora seria diferente. Havia encontrado uma família.
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