VIDA FANTASMAGÓRICA

É quase noite e ela vaga a esmo, por ruas estranhas, por pessoas estranhas; vaga com medo. Sabe que precisa voltar para o apartamento e que, para voltar para o apartamento, precisa tomar o metrô. Ninguém sabe responder que ônibus, dos muitos que passam, podem levá-la ao metrô.

De repente, surge um príncipe, entre os tantos transeuntes; príncipe não porque seja belo nem porque pareça ter posses: por ser gentil, apenas por ser gentil. Acalma seu medo e, como se a conhecesse desde a raiz, a convida para ir a um sarau no qual tocariam Debussy, (ela ama a música de Debussy, acima de qualquer outra) em casa ali pelas redondezas. Ele, o príncipe, se faz cada vez mais encantador e ela, esquecendo-se da premência de voltar para o apartamento, vai seguindo com ele, o príncipe, antecipando a alegria de ouvir a música do seu compositor mais amado.

Chegam à casa iluminada pelos sons. Não houve tempo para entrar: acorda, de súbito, com os olhos arregalados, encerrada, como todos os dias, entre as paredes do calabouço.

Escrito na tarde de 19 de fevereiro de 2010.

Republicado na manhã de 16 de maio de 2011.