Esperança
Sempre que ele falava em esperança – esperança de qualquer espécie: de tudo mudar, de dias melhores, coisas assim – o amigo retrucava:
- Esperança é ficção, Januário, ficção. Esperança não alimenta. A gente não come esperança. Entendeu?
Mas ele nunca entendia e aí o amigo emendava com a piada:
- É, você está certo. Esperança existe sim, aliás, todo espanhol que se preza costuma ter uma tia chamada Esperança. Ora faça-me o favor!
Mas nesse dia foi Januário quem falou:
- Sabe, estive pensando nesse negócio de esperança. Por exemplo, eu curtia a esperança de que as coisas pudessem melhorar e sempre tinha de adiar a esperança para o dia seguinte, e depois para o outro e para o outro... Puxa! Enquanto a gente fica nisso as coisas vão piorando...
- Escuta Januário, porque é que você está me dizendo isso?
- É o seguinte. Meu patrão é espanhol, sabe, e ele tem uma tia chamada Encarnación. Na semana passada eu fiquei conhecendo a filha dela. Vou-lhe dizer, amigo, foi amor a primeira vista. Adivinhe o nome dela...