O caminho na manhã com neblina

As árvores eram altas, mas por estarem com as folhas caídas deixavam passar o sol que a pouco levantara, com os raios brancos do início da manhã. Uma neblina fraca subia da umidade do terreno com suaves sulcos laterais ao caminho e que depois subiam numa ligeira ondulação para continuar então subindo levemente do lado direito, e descendo levemente do lado esquerdo. O cheiro do orvalho, das árvores e da terra molhada se entranhava com o início da claridade e do calor que o sol começa ligeiramente a imprimir, dando ao mesmo tempo uma sensação suave, mas com uma densidade aveludada e quase palpavel.

Instintivamnente respirou pela boca para tentar sentir o sabor daquele ar de mato matutino. Tinha uma direção, uma intenção de chegar, e se movia em função disso. Mas caminhava ali naquele momento sem a participação do seu destino no acontecer daquele caminho. O momento presente, os instantes que surgiam destruindo tudo que já havia sido e sem o pressuposto de que um momento seguinte surgiria. Só o cheiro, a luz, e o esforço do corpo.

Nessa união com a natureza ao seu redor e com a natureza do seu corpo, seguia alheio a sí por um momento. Um momento que não se sabe dentro de um tempo e, portanto, nem eterno nem efêmero. Um momento, sem tempo, só presença constante do aqui e agora, sem eu nem mundo, só o puro existir. Ele, o caminho, o andar, a direção e a manhã cheia de neblina, tudo fundido numa só existência perene.

Avistou casa no fim do caminho por onde caminhava. Então, planos e sonhos, expectativas e medos, toda a história pessoal que ele vivera e que o definia, o imenso mundo a ser arduamente trabalhado e vencido, tudo isso surgiu novamente. O tempo retornou com o seu passar infindo, medido pelo homem com muita coisa a fazer naquele dia. E o sol dissipou a neblina, deixando a paisagem clara e bastante nítidas as imagens que se apresentavam naquela manhã.

Sanyo
Enviado por Sanyo em 12/04/2011
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