SARAU
Ó nobre Critícius, quanta honra pões em meus humildes ombros, trazendo-me a tua excelsa presença. Anda, senta-te à minha mesa. Como vêdes, muita comida, poucos comensais. Triste, divago ao vê-la como uma espiga de milho tenra, mas falha de caroços... Não sei, talvez, por ser minhas iguarias pratos exóticos, frutas de cascas espinhosas, mais caroços, menos polpa, trabalhosas para degustar. Os agradecimentos saem vazios, como vazio sai o estômago de meus convivas. Perdão, nobre Critícius, por esta fraqueza explícita. Vem, delicia-te com meus petiscos literários, envereda-te em meus pergaminhos, percorre seus corredores onde as letras por mim, ali plantadas, extasiam-se em eternas fornicações entre a frágil textura das entrelinhas. Colhe tu, com teu olhar agudo e teu senso não menos acúleo, o que vai no âmago destes pequenos seres por mim ressucitados. Ó excelso sábio, vejo que me trazes um cântaro de vinho. Abre-o, entorna-o em meu cálice. És famoso por teu licor ácido. Beberei tua oferenda, pois, sei ser, que é originária de tuas vinhas que tem raízes profundas, arraigadas, nas terra do teu coração, portanto, de paladar verdadeiro.