UM CASO AMOROSO
Estou tendo um caso amoroso muito sério. Adivinhem com quem? Nosso primeiro encontro foi na capela do meu sítio. A capela é pequena, suas paredes são de pedras rústicas e não tem teto. Quando estou no sítio faço sempre uma visita ao meu Cristo, pintado no tronco mais grosso de uma das três palmeiras que ficam dentro da capela.
Nosso primeiro encontro foi estranho. Comecei a ouvir um barulhinho discreto e não conseguia perceber de onde vinha até que, observando bem percebi alguém de olhos grandes e espertos me espionando em cima da parede.
- Que é isto? Pediu licença para entrar? Não vê que é o momento sagrado quando fico a sós comigo e o meu Deus?!! Venho rezar e você, por favor, não atrapalhe minhas orações.
Ele não respondeu. Não disse absolutamente nada. Continuou de cabeça erguida e não arredou pé.
Tive pena, não quis atrapalhar sua vida, seu caminhar. Fiz minhas orações. Agüei as plantinhas e ele firme, acompanhando-me com os olhos. Ao sair fui tocada por aquele ser tão humilde, tão terno e discreto. Conversei bastante com ele. Resolvi contar-lhe todos os problemas que me afligiam. Ele olhava, levantava a cabeça, como se entendesse toda a minha problemática, querendo ajudar-me, mas não falava, nem arredava o pé.
Bastante aliviada, despedi-me completamente apaixonada por aquela criatura tão solícita, tão sábia, não interferindo na minha vida. Depois desse primeiro encontro nunca mais deixamos de nos ver. A qualquer hora que apareço na capela, lá está ele, solícito, olhos atentos, querendo me ajudar.
Agora estamos mais íntimos. Queria tanto pegar em suas mãos, fazer-lhe algum carinho... Praticamente impossível, todavia o seu olhar revela que guarda os meus segredos, que nosso amor é eterno e que posso confiar piamente nesse meu amigo “lagartixo” psicanalista.