A travessura de Caíque
Boa moça, a Judite.
Coitada, aflita, desaventurada.
Não imaginava que o destino lhe traria
Um filho, uma filha, e o fato.
O garoto, belo garoto,
Travesso, três anos.
Irrequieto, é verdade,
Mas criança, inventivo,
Tinha lá suas manias.
Carlos Henrique,
O lindo e travesso Caíque.
Sua mania que mais persistia
Era atirar brinquedos pela janela
Vê-los descer, sexto andar abaixo
E espatifar-se na calçada
Sua irmã, Aninha
Nascera já cabeluda,
Cabelinhos negros como a noite
Aos 60 dias de vida,
Mantinha os olhinhos também negros
Arregalados quase o tempo todo
Como que a espreitar as travessuras do irmão...
Boa moça, a Judite.
Naquela noite tudo estava bem...
Os três dormiam juntos
Estava calor, e o céu estava estrelado
Eis que o garoto, o endiabrado
Da cama desliza, quietinho
Sobe num banquinho
E mais uma travessura se consuma
Acorda a mãe,
E numa fala toda infantil e graciosa
Diz o indizível:
“Mãe, joguei ela”
Até ontem à tarde,
O estado de saúde de Aninha
Era gravíssimo...
Caíque, que já jogara muitos brinquedos caros
Na cabeça dos mendigos e passantes da rua
Dessa vez passara dos limites
No velório,
Uma tia o impediu de derrubar o caixãozinho
Mas não pôde evitar que o menino
Gritasse, alegre:
“Aninha, pula daí ! ”