SÓ DEUS SABE!!

Na Av. Brasil, embarquei no ônibus, um cenário de vidas cruzadas, onde cada rosto é uma história. Em uma parada, subiu uma jovem, vestida de preto, com um estilo gótico que parecia uma máscara. Ela segurava uma foto, uma imagem que congelava o tempo, e mostrava aos passageiros um recém-nascido entubado, um ser frágil que lutava pela vida. A emoção era palpável, e alguns passageiros, movidos pela compaixão, davam dinheiro. Ela pedia ajuda para o tratamento da criança, e eu, sem hesitar, dei o que tinha.

Mas, ao receber a grana da maioria dos passageiros, ela se sentou e acendeu um cigarro, um gesto que parecia contradizer a imagem de vulnerabilidade que havia apresentado. Reparei que suas unhas estavam sem esmalte e sem cuidados, um detalhe que me fez questionar a autenticidade da sua história. Ela abriu a janela e soprou a fumaça para fora do ambiente fechado do ônibus, como se estivesse expulsando as dúvidas que pairavam no ar.

Desci na minha parada, e a dúvida me acompanhou. Será que foi o golpe da esmola, uma estratégia para explorar a bondade alheia? Ou, de fato, a jovem estava precisando de ajuda, e o cigarro era apenas um refúgio momentâneo? A incerteza pairou no ar, como a fumaça que ela havia soprado para fora do ônibus. E eu fiquei com a pergunta, sem resposta, mas com a certeza de que, naquele momento, eu havia feito o que achava certo.