O sebo - cenas cotidianas 5 ( microconto )
Entrei no sebo já procurando pelo João. Que no meio dos livros tomava seu café. Era um rapaz de muita empatia pois tinha uma curiosidade que pouco encontramos hoje em dia. Ele sabe de todos os nomes dos livros do sebo. O que você perguntar para ele, ele sabe.
E naquele dia ele era minha última esperança.
Procurava um livro para um trabalho de Mestrado de uma disciplina em que eu não estava indo bem.
Pois bem, cheguei para o João que sorridente me comprimentou . Já dava para perceber que eu era assídua frequentadora do local.
- João só você pode me ajudar. Procuro um livro de um escritor português. Alves Redol. E não encontro em lugar nenhum .
- Seria o Barranco dos Cegos ? - ele me perguntou
- Não. É o Guaibeus. - respondi com uma pontada de desânimo. Aquele ele não encontraria.
Naquele momento um rapaz nos interrompeu com algumas revistas de quadrinhos antigos na mão.
E como se eu não estivesse ali desatou uma infinidade de perguntas tirando o foco da minha pergunta. Era jovem e parecia bem humorado. E feliz por ter encontrado vários exemplares que não tinha na sua coleção. Nem deu para perceber que eu estava imersa na minha dúvida sobre o livro.
João o atendeu , disse preços e o indicou uma seção com mais quadrinhos.
- Desculpa voltando-se para mim , qual é mesmo o livro?
- Gaibeus - disse desanimada.
E mais uma vez fui interrompida por uma senhora com um livro grosso na mão. Era um Dicionário de Mitologia e ela alegava que faltava páginas. O livro era praticamente novo. E João começou a dar atenção a ela, tentando convencê-la de que era um erro de impressão. Que recebeu ele assim. E que ela podia fazer uma troca.Discutiram por alguns instantes até ela resolver ficar com o livro.
- Gaibeus, João. Você tem este livro ? Eu não tenho o dia todo.
- Claro, claro me desculpa. - E ficou ali, no meio de dois balcões de livros, pensativo. Durante este tempo mais um cliente o interpelou com um pedido.
Eu já estava disposta a ir embora, ele parecia não ter ideia do que eu falava.
E então, mexendo em algumas prateleiras, voltou com aquele sorriso no rosto, com um pequeno livro amarelado nas mãos. Era o Gaibeus.Perguntei o preço Ele me entregou dizendo.
- Não é nada, ele pertence a senhora.