ANTES TARDE QUE NUNCA
Sêo Zezin nasceu, cresceu, casou e constituiu família no interior do Ceará.
As vezes que ele visitou a Capital, Fortaleza, não completava os dedos da
mão.
Sentado ao redor da mesa feita de varas de marmeleiro, acompanhado da mulher e de seus dez filhos, Sêo Zezin, olhando sem ver, remoía, remoía e remoía, se questionando, o por quê, de estar repetindo a mesma ladainha de seu pai: uma família de doze pessoas vivendo numa palhoça coberta por um lençol de miséria e se matando no cabo da enxada, de sol a sol, toda a família, dentro de um roçado do coronel medido por léguas, por um prato de feijão com arroz temperado com toucim de porco e carne seca.
Um bem-te-vi pousa na latada da choupana e canta o seu nome de forma estridente:
Bem-te-vi, bem-te-vi...
Sêo Zezin, de sobressalto, desperta de sua letargia e chama sua mulher:
- Zezinha, amenhã de menhã, ocê vai matriculá todo os meninu no grupo iscolá...
Com um nó na garganta e olhos alagados, Sêo Zezin se lamenta por ter acordado tão tarde para a vida...