ANTES TARDE QUE NUNCA

 

Sêo Zezin nasceu, cresceu, casou e constituiu família no interior do Ceará.

As vezes que ele visitou a Capital, Fortaleza, não completava os dedos da

mão.

Sentado ao redor da mesa feita de varas de marmeleiro, acompanhado da mulher e de seus dez filhos, Sêo Zezin, olhando sem ver, remoía, remoía e remoía, se questionando, o por quê, de estar repetindo a mesma ladainha de seu pai: uma família de doze pessoas vivendo numa palhoça coberta por um lençol de miséria e se matando no cabo da enxada, de sol a sol, toda a família, dentro de um roçado do coronel medido por léguas, por um prato de feijão com arroz temperado com toucim de porco e carne seca.

Um bem-te-vi pousa na latada da choupana e canta o seu nome de forma estridente:

Bem-te-vi, bem-te-vi...

Sêo Zezin, de sobressalto, desperta de sua letargia e chama sua mulher:

- Zezinha, amenhã de menhã, ocê vai matriculá todo os meninu no grupo iscolá...

Com um nó na garganta e olhos alagados, Sêo Zezin se lamenta por ter acordado tão tarde para a vida...

Sagüi
Enviado por Sagüi em 25/02/2024
Reeditado em 25/02/2024
Código do texto: T8006669
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