Um dia o mundo vai reconhecer a minha genialidade
Percebi desde muito cedo que eu era diferente, especial. Não que no jardim de infância eu me destacasse muito das demais crianças, embora minha mãe afirmasse que meus desenhos pareciam verdadeiras obras de arte, sabe, aqueles desenhos que os guris fazem enfiando as mãozinhas na tinta e depois lambuzando o papel. Pois é! Vi um deles a poucos dias, minha mãe os guardou, e desconfio realmente que havia algo de precoce ali em termos de arte abstrata.
No ensino fundamental não cheguei a ser um aluno notável, mas acredito que era por que meus interesses intelectuais estavam além daquilo. Então fui para o ensino médio. Cara, tudo ficou óbvio para mim. O problema não era eu. O problema era o sistema educacional. Claro que no ensino médio eu também não fui grande coisa, mas isso ocorreu pelo motivo que eu já citei. O sistema educacional. Concluí o ensino médio, não sem algumas recuperações e reprovações. Fiz o vestibular e, adivinha? Não passei. Mas como poderia ser aprovado se a seleção também seguia os mesmos parâmetros arbitrários do sistema educacional?
Hoje trabalho em uma empresa aqui mesmo no meu bairro. Faço de tudo. Desde carregar caixas até trocar o garrafão do bebedouro. Imagino que esse acúmulo de competências se deva ao fato de que meu patrão reconhece que sou um funcionário versátil, polivalente. Mesmo assim, estou de aviso prévio. Azar o dele. Vai perder a melhor carta que tem na manga. Tenho um monte de ideias para melhorar a empresa. Não que ela, até onde eu saiba, esteja passando por alguma dificuldade, mas poderia ficar bem melhor. Francamente, acho que as pessoas ainda não estão preparadas para alguém como eu. Minhas ideias estão muito à frente do meu tempo. Mas um dia o mundo vai reconhecer a minha genialidade.