O ponto no sol.
No meio de montanhas, susteve na mão o raio de sol. Os entardeceres quase frios da época, cujo fim nada mais é do que uma explosão amarela e azul, duas qualidades de vidro. O seu silêncio traduzia o próprio movimento cósmico — quem alcança essa sutileza? Largando a falecida luz, voltou a mão à posição comum, e manteve-se mirando o poente. Não havia diferença entre sua imagem e a das colinas, a diferença era sua sombra ser muito maior do que as delas. O negro de sua veste era o quadro da própria noite, era isso que eu via, mas não queria, dei meus passos para ver seu rosto. Quando lá cheguei, de relance apenas a seriedade da contemplação alcancei, e disfarcei olhando também para lá, mais para as profundezas. Essas minhas distrações, a minha adoração... quem sabe: o meu medo. Ainda mantinha-se impávido, o Sol, e larguei meus pensamentos, tentei, para poder participar do mistério, o tom da coragem que me faltava. Quando feito, passei a vista pelas ondas, linhas, feitas nos picos dos montes mais longíquos, preto tudo, a partir da sombra. Ondeando o olhar, até alcançar o fogo, enfim; isso posto: havia, no branco infinito, uma mancha viva, se mexendo. Forcei muito a vista, pus a mão, tentei. Que coisa. O mestre riu, apenas, e partiu. Depois da surpresa, consegui distinguir: era uma vaca, pastando.