O outro
Agenor foi dormir sob os protestos da mulher. Como de costume, entregara-se à embriaguez. Aquilo já havia passado dos limites, e ultimamente, para piorar, desconfiava da esposa sempre que bebia. Naquela noite, ainda meio zonzo, abandonou a cama para ir ao banheiro. Desorientado, deparou-se com um sujeito que o observava com uma careta de espanto.
- Claudete, - rosnou para a mulher, que acordou sobressaltada.
– Quem é este homem?
ela suspirou impaciente e respondeu: - És tu, criatura!
Agenor percebeu que estava diante do espelho. Inflexível, tentou preservar algum resquício de dignidade, murmurando aborrecido como se a garfe não fosse sua.
Assim, impávido, foi ao banheiro, e retornou a cama com um silêncio constrangido, típico dos tolos. Arriscou um carinho na esposa, que o ignorou com um resmungo mau humorado.