Anomia
Durante a infância de Joana, Deolice não pode ou conseguiu estar próxima da filha. Vivia atribulada com o trabalho, confundia-se em seus sentimentos, houve um tempo em que achou mesmo que fazia parte da família onde trabalhava. Amou os filhos de sua patroa como se fosse os seus e voltar para o morro depois de passar o dia em outra realidade parecia para ela como reviver um pesadelo todos os dias.
Em casa tudo fora de ordem, uma imensa falta de recursos, uma incomoda coletânea de improvisos, de gambiarras.
As crianças sempre gritando, não importasse o que fosse feito, o som dos gritos e do falatório não cessava. Jorge da Conceição sempre lá, entretido com suas mazelas. Quando entrava em casa, sempre cheirando a bebida e suor. Queria contar suas histórias, uma coisa engraçada que viu, ouviu ou viveu. Deolice Adorava Jorge e esses momentos, muitas vezes, era o que amenizava a anomia em que vivia, mas outras tantas vezes era justamente o que completava o caos, causando uma imensa vontade de ir embora, sumir ou esperar ansiosamente o próximo dia para se refugiar na cozinha da casa da patroa.