O chá.

Um leve sopro, caiu a última pétala da flor. Ela acompanhava a leve queda, serena, de um ser pleno de sua existência a ir em direção ao seu continuar: morte. Suspirou, novamente.

— Você acha que ainda virá?

Marta, empregada, vinha com o chá: — Claro, senhora. Promessa é promessa.

Pôs a xícara miúda na mesa também branca, junto do pires de extremidades azuis. Subia o aroma; também o vapor quente, como fantasma velante dos vivos.

Pelo cheiro, ela já sabia: — Marta... sabe que agora pensei: você, aqui, trabalha há mais de vinte anos, para mim, me vendo quase diariamente. Deve me conhecer tão bem...

Marta teve surpresa, mas ficou agraciada: — E todo esse tempo mantenho o prazer de estar contigo, Eliza...

— Não duvido, meu anjo. Teve todos esses anos junto de mim, sabe bem que gosto de chá. Tem até os que tomo de acordo com a ocasião.

— Sei disso, senhora! - e riu, conhecia Eliza como se fosse filha dela.

A mulher, cuja pele alva começava a brilhar devido ao suor, disse: — Por que me trouxeste hoje justamente o chá que tomei quando recebi aquela ligação do incêndio?

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 09/07/2023
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