Bifurcação
Soraya olha a estrada a sua frente a compara com sua vida que até então vinha sendo medíocre por pensar que o mundo girava ao seu redor. Diferente da estrada a qual sua vista alcança, ela é reta, não tinha bifurcação. Pensando nisto, busca dentro de si um meio para mudar de rumo de atitude, mas não encontra nada dentro de si por estar vazia oca por dentro. Sempre fora assim, por ser criada mimada demais, cheia de querer, de vontades, se seus pais não fizessem da maneira que queria o mundo desabava sobre eles, sabia que no final eles cederiam, fez isso com o marido também, antes quando namorava não. Foi só se casar que mudou, passou a ditar as regras do jogo, esquecendo que ele não era seu pai. No começo do jogo ele discutia, ficava com raiva dizia a ela,
- Soraya, muda isso que está efetuado não é coisa de pessoa adulta, de gente responsável de uma mãe de família.
Não importava com o que ele pensava ou achava, no final sempre ganharia, sabia como jogar. O marido foi mudando, ela pensando que ele estava aceitando a situação de quem mandava de verdade. Tudo isso durou até o dia que ele a chamou para conversar em um sábado à tarde. Foi logo dizendo,
- Tentei de tudo com você, pedi muito para mudar, mas não, sempre pensava que a vida é um jogo, que devia ganhar, estar por cima. Cansei disto tudo. Estou indo embora, não quero mais viver assim. Foi ano e mais ano, pedindo.
- E nossa família? Nossos filhos?
- Já sabem da minha decisão, conversei com eles concordam.
- O nosso amor como fica? Sabe que te amo.
- Amor? Nunca me amou pensava que eu era sua propriedade. Já não a amo mais o amor parou na segunda curva na estrada da vida.
- Meus pais o que irão pensar disto?
- Eles já sabem, o dia que falei com as crianças, conversei com eles também. Não precisa se preocupar estou indo porque preciso e quero viver, deste o dia que nos casamos estou sobrevivendo.
Dito isso, pegou a mala disse adeus, saindo de sua vida. Hoje ela olha para aquele caminho pensando que deveria ter agido em linha reta com o marido como a estrada que vê agora. Uma lágrima cai dos seus olhos. Antes que vire um mar de lágrimas vira as costas indo embora para que ninguém a veja chorando pelo seu erro, porque desta vez perdeu o jogo, fez jogadas erradas. Para não dizer jogadas podres. Sua trajetória é cheia de bifurcação.
Lucimar Alves