SEM TETO, CEGO E SEM AMIGOS
Fixou os olhos na escuridão procurando enxergar alguém que o ajudasse. O sangue descia pelos olhos, atingia nariz e boca, parando e empapando na barba.
Cambaleava e não conseguia ver. A pancada na cabeça, repentina e forte ao dobrar a esquina de uma viela, quase o fez desmaiar, mas logrou permanecer de pé e continuar andando em busca de ajuda. Não sabia quem o agredira nem por quê.
Era a madrugada capaz de esconder a maldade em cada metro quadrado das ruas, ele também entendia que sua condição de morador de rua o tornava um alvo fácil. Talvez ninguém o ajudasse, ou se encontrasse um transeunte e clamasse por ajuda o sujeito fugisse de sua presença para não se comprometer.
Mas ele persistiria rondando a escuridão na esperança de receber ajuda. Sim, tinha esperança, porém, estava certo de que ela apenas jazia sobre si, pois morrera e somente seu corpo tangível insistia em continuar na sua estúpida vontade de viver mesmo sendo um reles e sofredor invisível sem teto e sem amigos.