Tic-tac

Deitado entre os lençóis brancos sebentos, já não conseguia mais levantar. Eram os dois: um relógio barulhento e ele. Estava abandonado!

O calor dentro do quarto era sufocante, e o homem sentiu um desespero para que o inverno voltasse. Mas isso demoraria, e desse inferno o corpo não resistiria. Os medicamentos não faziam efeito; foi vencido pelo vírus.

Escutou gotas de chuva que começaram a cair e desejou poder olhar pelas janelas, mas estavam fechadas. Então o passado ergueu-se triunfante, e pela memória delirante foi arrastado para uma vida distante; mas nessa ânsia de voltar ao passado, acabou por desmaiar num sono profundo, em pleno esquecimento.

Amanheceu, e ao longe ainda conseguiu ouvir um tic-tac ...tic-tac...