O cabelinho piolhento
Com alguns acenos desesperados, a mulher fez o ônibus parar. Entrou, espremendo-se nas pessoas que tentavam, numa tarefa impossível, encontrar assentos disponíveis.
Olhou para trás, e com um grito estridente, chamou a pequenina que a acompanhava: “Entra Salete!”! E lá veio a criança choramingando, em passinhos tão lentos que chegaram a irritar ainda mais a mãe apressada. Assim que ela colocou um dos pés no primeiro degrau, os bracinhos foram violentamente puxados para cima do coletivo e a porta logo se fechou com um solavanco.
No colo da mulher a filha deitou o rosto no peito e perdeu-se num cochilo com o balançar do automóvel. O cabelinho longo estava muito sujo, num emaranhado de cachos louros, infestado por piolhos picando-lhe o couro cabeludo.
Nos primeiros minutos do trajeto, os fios de cabelo da pequena foram roçando e balançando... balançando e roçando entre os passageiros, e em meio as tantas cabeças, pernas e braços comprimidos, os insetos iniciaram uma eufórica maratona ao trocarem de corpos.