Lago

Reservatório, aquário; reservaquário - pode ser. Vivendo preso, vivendo de andar e não sair do lugar. As ruas e avenidas continuam se alagando, os córregos levando lixo e doença para sabe-se lá onde; tsunamis; lamúrias; cinzitude, total. Lá pra quê ir? Peixe que prefere as fronteiras transparentes. Vai para onde só vão os próprios de lá - tão aflitos quanto, mas mais preparados - porque fixou-se algo como essência e obsessão: obsência. Aquele mesmo laguinho, perdido, sitiado de matos que crescem sem parar; a ponto de desfazer-se no verde. Mesmo assim: resistindo; não numa egoísta existência, mas na tal essência - é ventre no nada. E o que ameaçado estava, vai, em tanta água do céu, compadecido, doada, exorbitando a cada caída gota. Fica ali, sempre no mesmo lugar, vai quando precisa, volta quando a oportunidade surge (e sempre no mesmíssimo ponto). Antes os pés se escondiam na grama, hoje já faz-se filho daquela mãe que se agiganta.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 31/01/2022
Reeditado em 31/01/2022
Código do texto: T7441939
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