As Pernas
A simples lembrança do perfume amendoado de Lilian o fazia aumentar ainda mais seu caminhar. Entre as ruas úmidas, os barulhos ensurdecedores de buzinas de carros, transeuntes atravancados entre si, Juliano era uma mistura de distração interna com o trabalho automático e veloz de suas pernas, amadas pernas, que o guiavam de forma certeira ao lugar de destino e deixava seu coração e cérebro livres para flutuar nos sentidos e lembranças do toque do corpo dela em seu corpo, do som de sua voz macia e felpuda escorregando para dentro de seus ouvidos, do beijo dado atrás de sua orelha ensurdecendo outros sons por alguns instantes, instigando seus mais secretos sentidos.
— Acorda, Homem! Chegamos. — Trepidaram suas pernas.
E lá estava Juliano em frente à casa de Lilian.
— Obrigado, queridas pernas!
Rose Rabelo
Autora