A EXATA MEDIDA DO DESEJO

Helena, dedicada esposa, doce mãe.

Mais um dia finda-se, assim como sua existência.

As crianças brincam pela casa. O crepúsculo não traz somente a escuridão para o dia, traz a escassez de vida para Helena.

Todo dia é igual - roupa seca e dobrada, casa limpa, jantar pronto.

Vinte anos de casamento, vinte anos dividindo seu marido.

Todas as noites são iguais - a exata medida do afastamento.

Os olhos dele brilham, antes brilhavam para ela, por ela. Hoje, companheira de Paulo é outra, com saliências bem mais interessantes, sabor leve, inebriante. Ele embaça seus sentidos e se cala. Sabe que esse amor vai matá-lo, mas o proibido seduz, arrebata.

Helena padece; chora, implora, tolera e desfalece.

Tudo é sempre igual -o mesmo brilho nos olhos, o mesmo cheiro no corpo, as mesmas promessas vazias.

Cada minuto é igual - um pedacinho de Helena se apaga. Sem sorrisos, sem toques, sem desejos.

A alma grita em vão. Ela deseja vida, amor, um toque.

Ele só quer mais um gole, talvez mais uma garrafa.

G Morantt
Enviado por G Morantt em 18/12/2020
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