A EXATA MEDIDA DO DESEJO
Helena, dedicada esposa, doce mãe.
Mais um dia finda-se, assim como sua existência.
As crianças brincam pela casa. O crepúsculo não traz somente a escuridão para o dia, traz a escassez de vida para Helena.
Todo dia é igual - roupa seca e dobrada, casa limpa, jantar pronto.
Vinte anos de casamento, vinte anos dividindo seu marido.
Todas as noites são iguais - a exata medida do afastamento.
Os olhos dele brilham, antes brilhavam para ela, por ela. Hoje, companheira de Paulo é outra, com saliências bem mais interessantes, sabor leve, inebriante. Ele embaça seus sentidos e se cala. Sabe que esse amor vai matá-lo, mas o proibido seduz, arrebata.
Helena padece; chora, implora, tolera e desfalece.
Tudo é sempre igual -o mesmo brilho nos olhos, o mesmo cheiro no corpo, as mesmas promessas vazias.
Cada minuto é igual - um pedacinho de Helena se apaga. Sem sorrisos, sem toques, sem desejos.
A alma grita em vão. Ela deseja vida, amor, um toque.
Ele só quer mais um gole, talvez mais uma garrafa.