Minha irmã,
Sigo sua voz. Fui ajuntando pedaços de madeira, fazendo o fogo e me aqueci, é claro. Você me disse que essa fogueira não derreteria os icebergs. Mas, eu lhe digo, veja, o espanto deles: não mais acreditam no fogo e ele, no entanto arde. Eles ficam incomodados, olhando de longe, falando entre si. As palavras se desencontram, perdem o sentido, os montes de gelo começam a abalroar-se.
— Vamos, mais fogo! Eu e Lara — falamos, já com achas nos braços. A fogueira aumenta; as montanhas geladas se desmoronam, baque surdo, engolidas pelas águas.
Amanhã elas voltam, você me diz. Voltam, eu sei que voltam, você insiste quase-pranto.
Escrevi uma carta para Lara, como você pediu. Abri-lhe o coração. Eu lhe disse: Não podemos acender mais fogueiras? Nossa floresta está ainda intacta... Podemos queimar os escombros de nós mesmos; enquanto tivermos forças para nos queimarmos, subsistiremos. A queda dos icebergs se tornará música e nos acostumaremos a ela. Ela não ousou abrir a carta...
Você me aperta forte, está dizendo que estou certo. E isso é bom. Mais nada...
Beijos do irmão que muito lhe quer.