Anedota arquiepiscopal
O padre de uma remota e quase esquecida paróquia recebeu a auspiciosa notícia da iminente visita pastoral de Sua Eminência, o Senhor Arcebispo, para crismar, abençoar o rebanho de fiéis e, sobretudo, consagrar a igreja matriz, cuja ereção se dava em seu glorioso arquiepiscopado.
Com tudo pronto para a grandiosa recepção, com banda de música, coral, marcha de fiéis, etc, eis que surge o imprevisto aparentemente incontornável: justamente ao aproximar-se a chegada do trem, o padre tem que atender uma chamada de emergência: extrema-unção de um paroquiano um tanto afastada da cidade...
Mas lhe veio a luz, num estalo digno do que acometeu Vieira: chamou o sacristão para recepcionar o dignitário eclesiástico com toda a honra que lhe era devida, frisando principalmente a questão da forma de tratamento:
- Sempre o trate por Vossa Eminência, Adroaldo, em quaisquer circunstâncias, em quaisquer circunstâncias, bem entendido?
Adroaldo respondeu obsequiosamente, e se abalou para a estação. Chegou com um minuto de atraso! Sua Eminência já havia desembarcado, notoriamente cansado, e já se encontrava na plataforma portando duas volumosas malas...e com ar de impaciência agravado pelo suor, em bicas...
Adroaldo aproximou-se e saudou, com a reverência que lhe fora recomendada, tropeçando porém na concordância:
- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Eminência! Vossa Eminência há de estar fatigada!
Ao que veio a resposta, concomitante ao trovejar das malas no piso da estação, e os braços arqueados, com as mãos cingindo a cintura arquiepiscopal:
- Fatigada? Eu estou é morta, minha santa!