Anedota arquiepiscopal

O padre de uma remota e quase esquecida paróquia recebeu a auspiciosa notícia da iminente visita pastoral de Sua Eminência, o Senhor Arcebispo, para crismar, abençoar o rebanho de fiéis e, sobretudo, consagrar a igreja matriz, cuja ereção se dava em seu glorioso arquiepiscopado.

Com tudo pronto para a grandiosa recepção, com banda de música, coral, marcha de fiéis, etc, eis que surge o imprevisto aparentemente incontornável: justamente ao aproximar-se a chegada do trem, o padre tem que atender uma chamada de emergência: extrema-unção de um paroquiano um tanto afastada da cidade...

Mas lhe veio a luz, num estalo digno do que acometeu Vieira: chamou o sacristão para recepcionar o dignitário eclesiástico com toda a honra que lhe era devida, frisando principalmente a questão da forma de tratamento:

- Sempre o trate por Vossa Eminência, Adroaldo, em quaisquer circunstâncias, em quaisquer circunstâncias, bem entendido?

Adroaldo respondeu obsequiosamente, e se abalou para a estação. Chegou com um minuto de atraso! Sua Eminência já havia desembarcado, notoriamente cansado, e já se encontrava na plataforma portando duas volumosas malas...e com ar de impaciência agravado pelo suor, em bicas...

Adroaldo aproximou-se e saudou, com a reverência que lhe fora recomendada, tropeçando porém na concordância:

- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Eminência! Vossa Eminência há de estar fatigada!

Ao que veio a resposta, concomitante ao trovejar das malas no piso da estação, e os braços arqueados, com as mãos cingindo a cintura arquiepiscopal:

- Fatigada? Eu estou é morta, minha santa!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/07/2019
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