Fazenda de Formigas

Construí uma fazenda de formigas que dia após dia multiplicavam-se com tamanha agilidade, era notável a complexificação que atravessava o processo de organização social.

Num piscar de olhos haviam instrumentos, novas vias, rainha com direito a trono e súditos. Destruí tudo com água! Odeio Monarquia!

Gostaria de algo ainda mais complexo, mais ação, mais astúcia!

Algumas sobreviveram, alimentando minha apatia sincera, usando artifícios do terreno ou um pouco de sorte.

As que restaram espreitavam algo, temendo por uma nova inundação, óbvio que não me viam, ou não entendiam se me viam, mas compreendiam em seu intimo que algo como eu existia, e eu apenas ria.

Vez ou outra elas ofereciam coisas ao nada, restos mortais, sujeira do solo molhado, pareciam ritualísticas ou religiosas e eu parecia seu Deus.

Espero que quem cuide da fazenda da nossa existência seja alguém mais sensato e menos sádico do que eu.

Rangel Paiva
Enviado por Rangel Paiva em 31/01/2019
Código do texto: T6563492
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.