O trem metropolitano parece parado na estação. Vultos velozes de homens e de mulheres passam voando, penduradas como blusas em movimento. Não dá tempo de reconhecer as bonitas que se misturam com as dentuças, banguelas, brancas, pardas, e amarelas...
Homens de toda estatura: sérios, grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e amarelos. Boas e más criaturas voam vestidas de muitas cores e etiquetas: panos finos ou grosseiros, guardam mulheres, homens e meninos, em suas etiquetas.
Famosas e também as baratas compradas na feira livre viajam no metrô. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada.
Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. O trem chia, chegado. Fernão ocupava uma cadeira no primeiro vagão.
Ravenala desembarca na Estação Carioca. O passageiro segue viagem. Nunca lhe dirigira a palavra senão, quando a perna da moça ficou presa no vão entre a plataforma e o trem.
—Você se machucou?
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando...
—Sangra pouco.
Passou o número do telefone, anotado em um pedacinho de papel retirado da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’
Ela desejou vê-lo novamente. Não o enfermeiro. Mas o passageiro cortês e delicado que a socorreu. Seria como encontrar uma agulha no palheiro.
***
Adalberto Lima, trecho de "Estada sem fim..."
Homens de toda estatura: sérios, grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e amarelos. Boas e más criaturas voam vestidas de muitas cores e etiquetas: panos finos ou grosseiros, guardam mulheres, homens e meninos, em suas etiquetas.
Famosas e também as baratas compradas na feira livre viajam no metrô. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada.
Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. O trem chia, chegado. Fernão ocupava uma cadeira no primeiro vagão.
Ravenala desembarca na Estação Carioca. O passageiro segue viagem. Nunca lhe dirigira a palavra senão, quando a perna da moça ficou presa no vão entre a plataforma e o trem.
—Você se machucou?
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando...
—Sangra pouco.
Passou o número do telefone, anotado em um pedacinho de papel retirado da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’
Ela desejou vê-lo novamente. Não o enfermeiro. Mas o passageiro cortês e delicado que a socorreu. Seria como encontrar uma agulha no palheiro.
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Adalberto Lima, trecho de "Estada sem fim..."