O açougueiro
Diante do rubro que mancha suas roupas. Segurando à destra a faca amolada. Suando litros pelo muito trabalhar, o açougueiro pensa na carne.
Pouco importa para ele a origem do boi, ou se era vaca, se chorou quando morreu, nem se estava doente. O açougueiro pensa no corte. Este deve ser preciso, pesado, matematizado. Deve dar aos vários músculos do cadáver os nomes certos que serão expostos em vitrine.
O açougueiro pensa na carne. Chã de dentro, alcatra, picanha e no preço de cada uma delas. Vez ou outra pensa no salário. Pensa no trabalho que dá cortar carne e nas vendas que às vezes não suprem.
Tudo muito prático. Tudo muito direto...
Não tem objeção ética ou moral... imoral é deixar a comida estragar... é o desperdício, é não cortar bem, tirar mais retalhos do que se deveria. Isso sim é grave. Por isso que, no corte da carne, a principal religião é amolar sempre a faca e o único altar é a vitrine.
De resto... as únicas questões metafísicas são, e isso para além do açougue:
Assada?
Cozida?
Bem passada ou mal passada?
Como está de sal?
o que se leva apenas é o comer bem.
Como termina esta história? Às 18:40 da noite... indo pra casa para tomar um banho, pensando no jogo de mais tarde.