CINCO MICROCONTOS DE NATAL
1. DENTRO DA NOITE
Na vitrine, a árvore de Natal piscava. Esperanças, talvez. As luzes refletiam em sua vista cansada. Mordeu o pão seco. “Natal são luzes e música. Às vezes nostalgia, fome e frio por dentro.” Saiu perambulando como uma folha solta ao vento.
2. PAPAI NOEL
Noite fechada. Uma estrela cadente riscou o céu. O menino apontou-a e disse: “- Lá se vai Papai Noel. Será que ele cairá por aqui?” Os olhos continuaram fitando o céu por um tempo. Depois, silêncio e escuridão.
3. ANJOS DE NATAL
Ali estava a maior árvore de Natal do mundo. Suas luzes mudavam de cor a cada instante. Os olhos do menino brilhavam. Sua mãe pegou em sua mão e o levou dali. Ele continuou a olhar para a árvore. Anos depois, ainda se lembrava daquela cena. Acendeu o fogão de lenha e imaginou que as chamas tinham o mesmo brilho daquela árvore. Chamou os filhos para o ajudarem a preparar a ceia do Natal. Algumas batatas com carne guisada. E eles sorriam, parecendo anjos.
4. ESTRELA DE BELÉM
À luz de uma lamparina, ajoelhou-se e fez uma prece de agradecimento. Apagou o pavio e foi dormir no chão de terra batida, num colchão de capim, ao lado da esposa grávida. Na madrugada, as dores do parto. “Se for menino, Jesus, será um bom nome”, pensou. Acendeu a lamparina. Era a sua estrela de Belém.
5. SILENT NIGHT
Não tinha amigos. Ninguém por ele. Tirou o chapéu e o colocou sobre a mesinha de madeira crua. Acendeu o lampião de querosene e ligou o radinho de pilha. Tocava a música “Silent night”. Pela janela contemplou a noite escura se fazendo lá fora. “Estar vivo já me basta”, foi o que pensou. E assobiou a noite silenciosa junto com o rádio.
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(José de Castro, mineiro-potiguar. Autor de “A marreca de Rebeca”, “A cozinha da Maria Farinha”, “Poemares” e “Vaca amarela pulou a janela”, dentre outros, infantis. E “Apenas palavras” e “Quando chover estrelas”, para adultos. Membro da SPVA/RN e da UBE/RN. Contato: josedecastro9@gmail.com)