O amigo e a distância

Eles eram grandes amigos. Contudo, tinham modos incomuns. Havia dias que não se olhavam, não se falavam, mesmo junto na roda de amigos. Quando seus olhares se esbarravam, ficava no silêncio por trás deles um ponto de interrogação. Longos dias seguiam assim. Não se importavam. Sentia-se um abismo entre eles. Quando, por acaso, ficavam eles dois sozinho esperando um terceiro, assentava um silêncio no ar tão rígido quanto paredes. Tão penetrante quanto agulhas! Era como se não alguém ali. Como poderia? Eram amigos de infância, nunca tiveram uma desavença, amantes do conhecimento e do bom diálogo. No entanto, se conheciam bem demais...

Pareciam compreender o silêncio - como eu disse: eles se conheciam. O mistério ficava para os outros que não entendiam aquele comportamento. O silêncio era o desconhecimento o qual nem um nem outro tinha o atrevimento de interromper. Sabiam que o momento os encontraria despertos e se reconheceriam como os grandes amigos que sempre foram. Não tinham pressa para se falarem. A distância parecia a gasolina da chama deles, daquela amizade misteriosa e estranha. Nunca se afastavam. Nem se inquietavam. Passado algum tempo voltavam cheios de assuntos, riam e dialogavam como velhos amigos.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 23/11/2017
Reeditado em 27/02/2018
Código do texto: T6180483
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