Vergalhões

A lua estava cheia e a noite fresca, no local da construção em Nova Jérsei. No canteiro de obras vazio, vigiado por guardas armados do lado de fora, o ruído do caminhão-betoneira, girando a massa de concreto ao lado de um dos buracos da fundação do centro comercial, só não era maior para ela do que o som da própria respiração ofegante. Estava de joelhos no fundo do buraco, seu tio Aradhana parado atrás dela, pressionando o silenciador da pistola contra sua nuca.

- Entende porque preciso fazer isso, Kesha? - Perguntou ele.

- Entendo que é uma superstição perfeitamente inútil! - Retrucou ela entredentes, coração acelerado. - Mas que, independentemente do que eu disser, vai me matar assim mesmo!

- Não tenha medo, Kesha - prosseguiu o tio, como se ela fosse uma criança que iria tomar uma injeção, e não um tiro na cabeça. - O tranquilizante deve estar fazendo efeito. Logo, logo, você não vai sentir mais nada.

O tranquilizante devia estar fazendo efeito, pensou ela. Foi invadida por uma grande paz interior e uma sensação como se o seu corpo estivesse flutuando, enquanto seu tio falava coisas sem nexo.

- Os vergalhões, lembra? Eles sustentam o concreto armado... mas é preciso mais para que os negócios da família progridam. Um sacrifício. Os seus ossos, misturados ao concreto da fundação, trarão prosperidade a este empreendimento...

Será que já teria morrido e sua alma estaria saindo do corpo?

De muito longe, escutou o barulho de um tiro. Seu corpo caiu pesadamente no fundo do buraco.

- [09-09-2017]