A embarcação afunda.

O náufrago nada a braçadas por quase  uma hora e agarra-se ao costado do navio. Escorrega. Gruda de novo...Seus músculos fatigados o levam quase à exaustão. Ele insiste. Distribui o esforço físico entre os braços e as pernas emaranhadas nas cordas da escada. Toca o casco do navio e descansa a meio corpo fora d’água. Relaxa. Recobra parcialmente as forças e sente  alguma coisa roçar-lhe a pele. Talvez uma serpente marinha. Não fez nenhum esforço para evitar que que ela se enroscasse em sua perna; no pressuposto de que, se fosse mordido, o veneno poderia transportá-lo para o outro lado da vida, e poupar-lhe as aflições do  afogamento. Agarrou com firmeza a escada e lentamente, escalou os degraus de corda. Atingiu o convés e se arrastou deixando rastros de medo. Outra vez suas forças se esgotaram, e ele se estirou a fio cumprido no lastro e dormiu.

Não sabe por quanto tempo dormiu,  e antes de amanhecer o dia, subiu no mastro, abriu os braços e se lançou como uma gaivota na corrente de ar. Voou além do horizonte. Daquele ponto, teve visão noturna do universo, todo o cosmo estava debaixo de seus pés. 
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Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.
Imagem: Internet