Mundo em reconstrução

Chá verde  é reconfortante. Bom para acompanhar uma boa conversa. Melhora o humor, como se despachássemos todos os problemas com a fumaça da imersão.
Morgana acomodou as costas no espaldar da cadeira e continuou seu discurso.
Problemas, quem não os tem? Eles se tornam fardos insuportáveis... Cada dia é um  novo desafio. Muitas vezes,  perdemos a batalha porque combatemos o inimigo errado — disse para si mesma —  às vezes me pego pensando, que o mundo não tem mais jeito. Que tudo está perdido... Tudo destruído: a natureza, a família, a paz... Na verdade, a destruição acontece, quando permitimos a desconstrução de nosso  mundo interior. Somos  parte do mundo, se estamos mal, tudo em volta adoece. Perde o brilho e a cor descora como folha no outono.
É verdade, o mundo sou eu — disse Morgana —  carrego peso que não é meu. Mas a bagagem não sou eu. Carrego entulhos acumulados na mochila, que precisam ser jogados no lixo. Sinto-me um caranguejo ermitão levando sobre as costas a  pesada concha de uma ostra.
Nem tanto assim, Morga. Pode ser que estejamos  na lama, mas não somos a lama. A luta pela sobrevivência requer a conquista do próprio  espaço, o que é deplorável é querer açambarcar tudo para si. Ter o mundo todo a seus pés. A vida passa. Tem pressa de chegar ao fim, e logo percebemos que as certezas tornam-se incertas. Quando isso ocorre, chegou o memento em que o desapego será a forma mais segura de viver melhor. Só a morte é garantia de vida eterna.
— Apegos?
— Sim! Como a ganância e outras más inclinações que sufocam a alma.
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Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...