Angélica contou  que a índia Apinajé chegou em Campo Grande trazendo  um osso humano numa  aió   amarrada na cintura. Inicialmente, pensou-se tratar da  lembrança de seu  último repasto? A suspeita caiu por terra, no dia  em que, ouvindo Zé Coco executar ‘Saudade de Mirabela’,  a índia acompanhou a música, tocando  com aquele osso, que mais tarde se soube tratar-se de uma cangoeira.
— Que é cangoeira, D. Angélica?
— Preste atenção, Jerônimo! Cangoeira é flauta indígena, feita com osso de um guerreiro, morto em conflito. O pai de Apinajé. Talvez!
— Cruzes! Bicho porco é índio: pôr a boca em osso de defunto!
— Essa farofa é de quê?
— A senhora não sabe que é farofa de tatu?
— Cadáver de tatu, queres dizer.
—  Cadáver humano  é diferente!

— Para índio, não. Pra eles não faz diferença  comer um bispo ou uma sardinha.
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Adalberto Lima, fragmento de Estrada sem fim...