Atire a derradeira pedra...

A subida era íngreme, desafiadora, mas nossa certeza de chegar ao topo era, no mínimo, absoluta. Afinal éramos todos jovens, na casa inicial do vinte anos, e, à medida que se subia, o que se sentia é que algo esplendoroso, como um sermão da montanha, nos abençoaria.

O ano seria 71 ou 72, e nosso entusiástico guru, ou era o Prof Edmar, da Geomorfologia, ou o Davi Márcio, da Geomorfologia. Ou um terceiro seria, quem a lembrar se arriscaria? E nós compúnhamos a turma ingressada em 71 na UFMG, diploma de Geo-Ciências. Rapazes, juntos dávamos uma meia dúzia, já as moças, em larga maioria, passavam da vintena. O que tornava a subida mais amena...

Mas trepar, pode ser meio capcioso. Impunha-se uma fila quase indiana para se aproveitar a trilha e à medida que se subia, e mais se aprendia, o corpo, conquanto jovem, os efeitos da altitude sentia.

Não bastassem as crescentes agruras da subida, que da alacridade incial, ia passando à suadeira total, Carlos Sérgio, moço loiro, teve uma idéia irresistível, que logo passou à ação, não só pelas suas nívias mãos, quanto pelas minhas, não menos nívias: ir colocando, paulatinamente, pedrinhas de tamanho e peso aproximado de um ovo, na abertura convidativa da mochila que nossa colega também moça loira Luci portava às costas.

E os comentários de que a cada passo o corpo passava a pesar mais reproduziam-se sob progressivo resfolgar. Até que, até que, já no topo ou quase da montanha, a trama foi revelada. E quanta pedra não foi atirada...

Mas poderia ter sido pior. Rolar pela pirambeira teria sido fatalidade certeira. E com Luci near the sky with diamonds...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/09/2016
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