Porão
O que mais impressionava Sofia era o fato do marido não ouvir o que ela vinha ouvindo desde que se mudaram para casa recém-adquirida “-Mateus, essa noite foi a pior de todas! Parecia que a casa iria desabar. Todos esses ruídos vindos das paredes e as vozes...-“ O marido alarmado questionou “-Vozes? Está ficando louca, Sofia, devem ser apenas sonhos-“ decidiu resolver o assunto. Não era cética como Mateus, acreditava que alguma força estava agindo na casa e não era nada benigna. Procurou o padre paróquia local, numa visita ele descartou qualquer manifestação do mal e benzeu a casa assim mesmo. Então, ela recorreu a médiuns, nada declararam encontrar ali. Sofia julgou que talvez o marido estivesse certo, estava apenas tendo pesadelos muito reais. Passaram-se dias, os barulhos cessaram e Sofia acabou esquecendo o assunto. Numa manhã de quarta-feira, Dia das Bruxas, ela estava regando o jardim e escutou um grito medonho, engasgado e tenebroso ecoar do fundo da casa. Imediatamente, Sofia soltou o regador e disparou, sem pensar, pelas escadas até o subsolo da casa. Eles não usavam o cômodo, sequer tinham descido ali. Quando Sofia acendeu a luz que falhava, seu coração parou por um átimo, havia um verdadeiro cemitério clandestino de covas rasas e expostas. No canto do porão, atrás de móveis dos antigos moradores, jazia um cadáver em avançadíssimo estado de decomposição preso a correntes nos pulsos. Sofia empalideceu e caiu sentada no último degrau, incrédula e trêmula. Outro grito vibrou da boca escancarada do crânio acorrentado, “-Estou enlouquecendo-“, foi tudo que ela conseguiu pensar antes da porta do porão ser selada por mãos cadavéricas.