Requiescat in pace
 
O estranho cheiro que me atraía vinha dos túmulos que ficavam a oeste do cemitério. Frequentava o lugar regularmente, precisava manter as flores da lápide de Giovanna sempre frescas. O cheiro desagradável começou a me incomodar nas últimas visitas, era tão forte que parecia estar impregnado em mim, acompanhava-me por todo canto. Indaguei ao coveiro sobre aquilo, ele nada me disse, se quer me deu atenção. Julguei que os anos de trabalho o tinham tornado meio alheio, recolhi-me à minha inquietação. Porém na última visita que fiz à minha amada filhinha morta, um impulso incontrolável me fez ir checar a origem do odor que não me deixava. Caminhei entre túmulos e estátuas, era fim de tarde, ali sempre parecia escurecer mais rápido. Ao me aproximar das sepulturas na ala oeste notei que três estavam reviradas e expostas, a terra sendo engolida pelos caixões abertos e vazios, pedaços de lápides se espalhavam por todo lugar. Aterrorizado, procurei pelo coveiro com os olhos, não conseguia sair do lugar e não havia ninguém vivo ali. O odor se tornou mais forte, mortes me encaravam apenas a alguns metros das covas. Um homem alto e magro, tinha o rosto decomposto onde larvas se banqueteavam da carne, sussurrou “Você está morto”. Olhei minhas mãos, larvas gordas também rastejavam sob a pele inchada, o grito ficou preso na garganta dilacerada. Ao tentar fugir daquele pesadelo, meus pés vacilaram em uma das covas abertas, lá permaneci sepultado.
Larissa Prado
Enviado por Larissa Prado em 22/08/2016
Reeditado em 28/10/2016
Código do texto: T5735836
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