UM CAFÉ
No bar vazio, duas meninas riam, sentadas numa mesa de canto. Dirigiu-se ao outro extremo e ocupou a mesa próxima à janela. Pela vidraça opaca de tanta sujeira acumulada, conseguia divisar o lento deslocar das pessoas. Enfeitou a modorra pedindo um café. Sorveu o líquido de cor marrom e gosto intragável. Um pássaro pousou numa árvore próxima. Deu alguns pios. Não obtendo resposta, voou.
Acabado o café moveu-se em direção às meninas. Pôs calmamente a foto sobre a mesa e com o queixo inquiriu ambas. Rindo, acenaram positivamente para o desconhecido. Sem temor aparente saíram para a rua. Guiaram-no até uma travessa próxima. Terceira casa à esquerda. Uma entrou. Num gesto brusco, cortou a garganta da que ficara. Arrastou-a pelos cabelos rumo ao interior. Dois tiros silenciosos. Dois baques no sofá. Com o dedo mínimo guiou o fluxo de sangue para uma fenda do assoalho. Depois, lambeu-o. Um pássaro pousado numa árvore próxima recebeu o último tiro. Puxou um lenço e desatarraxou o silenciador ainda quente. Na parte interna de uma das botas acomodou o .44. Guardou o silenciador no bolso do casaco. Sentiu uma leve pontada. Respirou fundo buscando o ar da manhã. Seu estômago não queria outro café.