Conto Parnasiano

Havia um rapaz, havia um vaso. Havia um rapaz feliz, com perspectivas e alegrias. Havia um vaso preto lindo, com pinturas suaves e incisivas.

O rapaz se divertia, bebia, fumava, vivia. O vaso era supremo; encantava, impulsionava a troca de adjetivos em quem o admirava, proporcionando deleite. Era amigo de tudo e todos; receptivo, amável, mirado como alvo. O rapaz era evidente, até demais. Tiravam-lhe o pó com zelo dobrado, lustrado e examinado. Só faltava-lhe lugar ao sofá.

O rapaz não conseguia se-lo mais. Introspectivo, pensativo, deprimido e autopunitivo. De tanto pano, o preto quis ser mais claro, sumir com o detalhe; não tomava mais o centro mas a beira da janela. Magro, sozinho, esquecido, deposto meio ao vício da vida onde se vivia e se tornara extremo. Não havia mais o rapaz. Olhei para o vaso, analisei-o, admirei-o pela derradeira vez e ainda penso: devo joga-lo?