AFETO

Tinha os olhos fechados. Nem tanto por medo; mais por faltar vontade de abri-los. Imaginar o incômodo que a luz provocava já era exaspero suficiente. O filho trouxe-lhe um café. Pôs a mão na lateral da cabeça. Aquele latejar constante fazia tremer as mãos e provocava um estado de prostração que impedia até um riso. Sorveu o líquido denso. Pelo canto do olho observou-o rir. Um espasmo sacudiu-lhe o corpo esquelético. Sentiu a xícara ser arrancada das mãos. Enquanto caia arquejando, observou que a fumaça do café e um miasma subiam paralelamente rumo à escuridão.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 23/07/2015
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