O Major jardineiro
O Major não era moleza - ou talvez já fosse, e não tinha muita certeza. O fato é que vivia numa boa casa do lado mais alto da rua Rafael de Magalhães, logo ali nas imediações da antiga FAFICH da UFMG., Aparentemente viúvo, mas certamente solitário, seus cuidados matinais, pelo menos e a pelos mais, passaram a ser o jardim frontal, um éden florestal. Beleza mesmo.
Regar não era problema, pois todas as manhãs, invariavelmente, quem passasse via o Major de mangueira à mão, antes até do sol raiar. Essa visão, entretanto, não era a mesma, igualinha, pra todo passante.
Os moços estudantes, e entregadores, por exemplo, madrugadores até contra a vontade, viam um Major sereno, de mangueira a mão, sempre atrás de algum arbusto, alguma roseira. Da cintura pra cima, por sinal muito bem aparatado pra ocasião: um paletó, ou um blusão, cabelos escovados e os dentes, sorridentes, vai ver que também.
Entretanto, para as moçoilas, geralmente as domésticas, que passavam na pressa atrás do pão, do leite de dos jornais, a visão do Major era integral, saída do arbusto protetor: nuzinho da cintura pra baixo. E até sua mangueira virava plural, de dava sinal. E como vizinho frontal, em casa de pensão, pude constatar esse curioso obscenario quando num madrugar precipitado, ao ouvir um gritinho assustado vindo da rua, abri uma fresta da janela para ver que festa poderia ser aquela...
Adestrado que era na faina das batalhas imaginadas, o Major recuou e a mangueira , feito a madureira, chorou...