A grande árvore
A terra, a água, o calor, os sons - o farfalhar das asas, das folhas, das gentis vozes - era tudo imaculado e tudo familiar. Aquelas ondas que se arrebentavam naquelas pedras eram formadas para arrebentarem-se naquelas pedras, aquele vento que soprava naquela terra era feito para soprar naquela terra, que outra terra haveria? - o mundo era aquele e era bom assim, era belo assim, era... Um pequeno tremor, um resmungo de um gigante embaixo da terra. E então um grande rugido que abalou a terra única, uma furiosa tempestade que se abateu sobre eles e manchou sua perfeição. Uma vultosa onda que se ergueu sobre as cabeças, sobre as copas das árvores, engolindo cada pequena peça daquela harmoniosa máquina natural. E não deveria sobrar nada, mundo algum jamais deveria ser construído a partir daqueles restos. Mas ninguém jamais ligou para os restos, e estes foram reduzidos a um nome de uma cidade, de uma rua, de uma comida que comemos sem saber que comemos. A grande árvore cresceu sem as raízes.