Sem eclodir?
Você, como eu, acredito que daria pouco por aquele menino magrelinho, dentuço que se debruçava sobre a mesa da lanchonete da Valéria naquele matinal e ensolarado domingo, enquanto o padrasto, sentado numa outra mesa tomava suas duas brama...
Era o Tiago, com seu surrado livro-caderno de catecismo. À minha pergunta sobre quem criou o universo, ele foi monossilábico: Deus!
Mas à medida que nosso papo progrediu, com algum ou outro pitaco do pai, Tiago foi-se tornando mais darwiniano do que daria para imaginar num garoto de meros onze anos, carinha assustada, e amante do handebol.
Ele veio de São Lourenço e fora parar ali, na distante e romeira Conceição do Pará, por virtude do amor de sua mãe ao padrasto, que o observava, orgulhoso, durante minha argüição. Não chegou a desferir elogio, mas se impou das respostas cabais e comentadas do jovem catecista darwiniano. A história que contou da invenção do jogo de xadrez comoveu.
Eu, também, como inquisidor-mor, confesso que senti um fraco por aquele bichinho do mato: sabia tudo, desde o rebaixamento planetário de Plutão à vontade maior de conhecer um país na Ásia. Nada de Disneylândia ou torre Eiffel.
Mas me pegou mesmo foi quando lhe falei nos dinossauros, e lhe mencionei algum eventual ovo que vinha de ser encontrado nas escavações na distante China. Sua pergunta foi: mas como, um ovo inteiro, sem eclodir?