Rojões
Os rojões rasgam os céus, quebrando o silêncio. O exército chegou de mais uma guerra, os portões da cidade se abrem. Uma festa começa imediatamente. Estou triste. Amo o Reino, amo meu Rei, e estaria disposto a me entregar de corpo e alma por eles, só que não me foi dada a oportunidade de servir. Quero morrer como guerreiro, por amor ao meu Rei, não por honras de valente. Mas Ele me mandou limpar as ruas. É egoísmo não se alegrar por uma vitória que você gostaria de ter ajudado a conquistar?
Imerso em meus pensamentos, apoiado em minha inseparável vassoura, não vejo o Rei se aproximar. Estou acostumado a estar sozinho, já que as pessoas desprezam meu trabalho. Às vezes até me sinto o guardião solitário de uma torre, à espera do inimigo, de onde canto batalhas imaginárias enquanto removo o pó de onde vim.
- Olá, Paciência.
- Oh, digníssimo Rei, não vi Vossa Majestade chegando. - Curvo-me. Não sabia que ele conhecia meu nome. - Parabéns por mais uma vitória, meu Senhor.
- Sou eu que preciso te parabenizar, filho. As ruas, como sempre, estão impecavelmente limpas. Saiba que seu trabalho é muito importante para mim. Quisera eu que todos tivessem o mesmo zelo que você.
- Oh... Obrigado, meu Senhor.
Ele se curva, como se eu fosse algum tipo de herói, e volta para a celebração. Eu, porém, resigno-me e espero.
“E eu quis morrer na batalha ao lutar pelo reino até o fim,
mas fui convocado a cantar das vitórias e guerras que nunca vi.
Me reduziria ao pó de onde vim,
mas eu não enxergo o que Ele vê em mim.”
*Inspirado em uma música dos Irmãos Arrais.