Haarschneidemaschine!
Pois imagine, essa alemanzinha já fez a cabeça minha, deixando caminhos de rato, tudo cortando ou arrancando, feito enxada no mato. Era manual, de um brilhante metal, encerrada numa caixinha de rótulo azul em fundo preto. Trazia ainda dois pentinhos adicionais.
Com meus cabelos espetados - por natureza, e diante daquela surpresa - fui o primeiro a testar a habilidade figarótica de papai. ...Un buon barbiere, di qualità... Se com vida escapei, escalpelado fiquei, com aquela franjinha apenas para embelezar, ou para frente e costas diferenciar.
E cada mês, ou menos talvez, sessões de cortar cabelo se seguiram, anos e anos a fio e fios. Eu, e os irmãos. Não adiantava a resistência, blasfemando ou só os lábios mordendo, tinha-se que quitar aquela penitência - que garantia a indulgência até o mês seguinte.
O rótulo garantia a qualidade do produto. Aço de primeira, germânica ceifadeira. O cabelo, ou o tosador, é que era um bruto, na remoção daquela touceira. E só a mão esquerda pesada de papai, que segurava a cabeça para firmá-la, enquanto a direita se esforçava para guiar aquele arado, algum fio renitente, ao invés de cortado, ia - ai ai ai - arrancado.
E jamais chegava a sangrar, mas o desconforto, a paciência, de lado a lado, só faziam tumultuar. E ainda assim, sob aquela dura sina, não me ocorreu ter nascido menina.