ALTERNATIVA

A baba do beijo de Janine já havia secado em seus lábios, mas o gosto de cigarro mentolado ainda impregnava a língua. Viu com preguiça o sol abrasivo e as ondas de calor que tremulavam no asfalto. Devia percorrer três quarteirões sem marquises protetoras. Impunha-se um tempo máximo para o percurso. Ele e Janine a tudo cronometravam; de beijos rotineiros ao sexo, tudo. Era um jogo sem sentido, mas mantinham-no: assim o relógio de pulso adquiria algum sentido, além de meramente deixar uma marca desbotada próxima ao punho do braço direito de cada um.

Acomodou os pacotes na sacola retornável comprada por um 1,99 no supermercado bem refrigerado da sua rua. Viu pessoas saírem exasperadas da boa temperatura para tragar seus cigarros sob o sol escaldante, vigiadas por um segurança impassível. Apertou o passo discretamente. Num limite que não chamasse atenção e nem gerasse suspeitas. Apertou o botão do 32. Esperou o clique do portão se abrindo e subiu. Pagamento conferido, olhou o relógio. No retorno tentaria reduzir os minutos. Janine fez o mesmo por todo o tempo. Ainda havia pacotes de anfetaminas para entrega. Sob o sol.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 04/03/2015
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