CEMITÉRIO URBANO

Feito zumbis num filme de Romero, caminhamos pelas alamedas do cemitério de Campo Grande. O sol forte confronta nossas maquiagens mortuárias baratas. Alguns riem, revelando dentes a menos pelas arcadas carcomidas. O mundo depois daquele muro nos ignora. Os anjos que enfeitam túmulos, também! Os funcionários, estes não; estão ali, medrosos, trancafiados nos prédios da administração. Pela vidraça consigo achar Ivana, encolhida atrás de uma mesa. Um dia ela morrerá. Espero conservar todos os dentes até lá para sorrir-lhe e beijá-la.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 29/01/2015
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